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Pé de passagem. Pede passagem

Entre 2022 e 2024 nosso grupo de pesquisa manteve ativa a extensão “Pé de Passagem”.
​👣 Pé de passagem. Pede passagem.

O tempo passa. E muitas coisas ficam: estátuas, prédios, monumentos, paisagens, fachadas, ruínas. Algumas delas permanecem de modo duradouro, como as igrejas do século XVI da Cidade Velha do Rio de Janeiro; outras são mais efêmeras, como os cartazes de jogos de búzios e tarô nos muros e postes de grandes avenidas; outras ficam no meio do caminho do tempo, como as pixações nas fachadas de igrejas tombadas.

As pessoas circulam ombro a ombro, mas podem passar por lugares muito diferentes, como os transeuntes que encurtam caminhos pelo Beco do Rosário lado a lado de quem saiu de uma consulta com a mãe de santo e dobra em direção à Rua dos Andradas para comprar ervas em uma das barracas na calçada.

O dinheiro também passa de mão em mão, convertendo moeda em fé. Entre as lojas de artigos litúrgicos, o atacadão das bíblias e os sebos com suas prateleiras de livros espiritualistas e religiosos, passam muitos objetos. Das fábricas de congregações ou das pequenas oficinas e confecções, passando pelas mãos dos vendedores, até chegar aos clientes, os objetos ganham diferentes qualidades espirituais. As velas que o digam, tantos são os seus caminhos, entre despachos nas esquinas, oferendas em casas de santo e os altares das igrejas católicas.

Nos seus percursos, alguns objetos se distanciam no espaço. Outros se encontram e coabitam, como as chamas do velário da Igreja do Rosário, onde velas para São José e São Miguel ficam lado a lado a outras para Maria Mulambo e Pai Joaquim das Almas. Outros objetos se encontram e se chocam, como acontece nas disputas entre Jesus, Exus e Ciganas nos lambes dos muros da Avenida Passos.

Estudamos passagens no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Passagens no tempo, passagens no espaço, passagens de palavras, passagens de pessoas, passagens de objetos. Estamos interessados pelas circulações nas calçadas, nos balcões e nas giras; pelos cruzamentos de ruas e imagens; pelas encruzilhadas espirituais e espaciais; pelos traçados das ruas e das pixações; pelas esquinas e seus despachos.

Com os pés nas passagens, a gente pede passagem.

ARTE do pesquisador e artista Davi de Macena (@demacenaa )

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