A “inundação” que assombrava Luiz era prometida pela elevação da barragem do reservatório de Ribeirão das Lajes, produto de uma parceria entre os governos estadual e federal, e a então Companhia de Carris, Luz e Força do Rio de Janeiro. A demanda por energia elétrica havia aumentado, argumentavam estes atores em sucessivos ofícios ao apreensivo Rodrigo Melo Franco de Andrade, diretor do SPHAN, e era necessário abastecer a capital. Não havia “outra solução técnica praticável”: com a elevação da barragem, as águas de Ribeirão das Lajes inundariam São João Marcos.
Estava decretado o desaparecimento da cidade que havia testemunhado, nos séculos anteriores, a prosperidade cafeeira. O tombamento de São João Marcos, consolidado compulsoriamente pelo SPHAN em 1939 como um vão esforço de proteção, foi suspenso pela rúbrica de Getúlio Vargas no Decreto-Lei nº 2.269, de junho de 1940. Foi a primeira cidade do país a ser patrimonializada, e também a primeira a ser destombada. Hoje, restam as ruínas de São João Marcos, abertas para visitação no Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos. Foram tombadas, ainda em 1990, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).
Entre as ruínas da cidade submersa, destacam-se aquelas da Igreja Matriz de São João Marcos. Sua salvação foi, inicialmente, assegurada ao SPHAN pela Companhia de Carris, Luz e Força do Rio de Janeiro. Como o templo do século XIX estava situado em uma elevação do terreno, apontavam os representantes da empresa, não seria alcançado pelas águas de Ribeirão das Lajes. Em vão. Como os teatros, fazendas, clubes, residências, escolas e demais construções da cidade, também a Igreja Matriz de São João Marcos recebeu sua trágica sentença.
Fontes:
Arquivo Central do IPHAN, proc. 183-T-38 (Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de São João Marcos).
Portal do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos
Fundo Benedito Dutra no Acervo Memória da Eletricidade