Quando as Igrejas e o Convento do Carmo de Mogi das Cruzes foram tombadas pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 1967, já se falava na sua demolição. Os protestos foram imediatos quando a medida foi anunciada à Angelino Wissink e à Hilarião Remmerswaal, eclesiástico da Ordem Carmelita. Segundo os carmelitas, nada de “antigo nem de artístico” restava às Igrejas e ao Convento do Carmo. As reformas sofridas pelas construções haviam as deixado “mutiladas”, argumentaram, e já eram compatíveis com as necessidades das “almas confiadas aos cuidados” da ordem.
Os carmelitas definiram as construções erguidas entre os séculos XVII e XVIII como “monumentos mortos” de um “peso tremendo” para a cidade. Era necessário, portanto, substituí-las por um templo maior, “moderno” e recheado de “inovações”, compatível com o “progresso” de Mogi. Angelino e Hilarião não estavam sozinhos nesta defesa: ainda em 1967, o SPHAN recebeu 6.184 assinaturas de moradores e eclesiásticos pelo cancelamento do tombamento das Igrejas e do Convento do Carmo. A resposta furiosa do órgão partiu de Lucio Costa, diretor da sua Divisão de Estudos e Tombamentos.
Questionando como se poderia, em “sã consciência”, condenar as Igrejas e o Convento do Carmo à “pena de morte”, Lucio relembrou o valor histórico e artístico das construções. As vontades dos “fiéis (ou infiéis)” de Mogi, escreveu, não poderiam justificar a demolição das “testemunhas” das origens e da “tradição” da cidade. Que os carmelitas construíssem seu novo templo em outro local, se quisessem. O Conselho Consultivo do IPHAN determinou, por unanimidade, que as Igrejas e o Convento do Carmo fossem tombadas compulsoriamente. Em 1982, outro tombamento veio do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT).
Hoje, as Igrejas e o Convento do Carmo podem ser visitadas no mesmo local que sempre ocuparam, mas com a adição do seu Museu das Igrejas do Carmo, inaugurado em 2005.
Fonte: Arquivo Central do IPHAN, proc. 0790-T-67 (Convento e Igreja da Ordem Primeira do Carmo e Igreja da Ordem Terceira do Carmo).