próximo

Igreja Bom Jesus dos Martírios (Recife/PE)

Esta é a Igreja Bom Jesus dos Martírios, instalada em 1796 no bairro de São José, na área central da cidade do Recife, onde hoje está situada a Avenida Dantas Barreto, uma das artérias urbanas da capital. Edificada sob terreno doado pelo sargento-mor José Marques do Vale e D. Anna Ferreira, o percurso do templo, que abrigava a Irmandade do Bom Jesus dos Martírios dos homens pretos, é repleto de transformações e atravessado pelas mudanças urbanas na capital de Pernambuco. A igreja, apesar da sua arquitetura modesta, exigiu da irmandade, para sua manutenção, uma alteração no Estatuto, no qual passou a aceitar a entrada de irmãos brancos, tornando-se então apenas Irmandade do Bom Jesus dos Martírios. Em 1884, portanto, o templo passou por uma grande reforma, no qual somente a fachada e o aspecto arquitetônico se mantiveram, resultando na construção de um novo altar-mor e da estruturação dos arcos laterais.

A partir da construção da Avenida Dantas Barreto, o templo passou a ser mais visado pelas instituições públicas, tanto para sua preservação quanto para sua demolição. Após propostas feitas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para o desvio do trajeto em prol da preservação da igreja serem rejeitadas pela prefeitura, percebeu-se que o templo sofria risco de ser demolido. Paralelamente às discussões institucionais, a prefeitura avançava com a abertura da avenida, a fim de concluir o projeto aprovado. Dessa maneira, o instituto opta pelo tombamento imediato do templo. Ocorre que neste mesmo momento são retiradas as paredes de um prédio antigo em ruínas anexo vizinho a igreja e este desaba, ceifa vidas e atingindo a igreja causando rachaduras, buracos e instabilidade na estrutura. Assim, traçando uma disputa narrativa sobre a estrutura do edifício religioso, o prefeito Augusto Lucena, aliado aos jornais locais, dissemina notícias que comovem os civis, criando uma aliança com o povo recifense a favor da demolição do que classificava como o “perigo da rua Augusta”: a Igreja dos Martírios.

Após a crença na qual o templo havia se tornado um edifício perigoso e em ruínas, levando insegurança aos vizinhos, a igreja recebe diversas ameaças e a demolição passa a ser aclamada pela população. Mediante as conclusões antagônicas acerca da estabilidade estrutural da Igreja Bom Jesus dos Martírios, a arquidiocese e a irmandade buscam um acordo com a prefeitura, declarando serem a favor da demolição na condição da reconstrução da igreja com as mesmas convicções em outra localidade. Em contraponto, o prefeito propôs a criação de um museu de arte sacra em memória ao templo. Porém ambos os projetos não foram realizados, sucedendo no destombamento seguido da demolição da igreja em 1973.

texto de Isabella Marques

blank blank blank blank blank blank

Newsletter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *