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A Igreja Sacrificada

O sacrifício da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em Minas Gerais, foi defendido pelo seu próprio pároco.
Como atestado pelo vai-e-vem de ofícios e telegramas entre as figuras eclesiásticas da cidade e a então Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) durante as décadas de 1960 e 1970, o padre Jacinto Lovato pretendia demolir a construção mencionada no tombamento do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de São João del Rei “para, em seu lugar, erguer outra mais espaçosa”. Logo, Jacinto não estaria sozinho nessa pretensão.
Em 1961, o bispo da Diocese de São João del Rei, Delfim Ribeiro Guedes, solicitou ao DPHAN que a Igreja dos Matosinhos fosse ampliada para “servir convenientemente ao culto Divino”. A população da cidade crescia, sugeriu o bispo, e também deveria o templo. A solicitação de Delfim não foi atendida. Ao mesmo tempo, o estado da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos se deteriorava. Erguida em 1774, pedia com urgência por serviços de manutenção e de reparo. Milhares e milhares de cruzeiros seriam necessários para que a construção recuperasse seu fulgor — orçamento que o DPHAN compreendeu como inviável. Passaram-se alguns anos e, finalmente, no início da década de 1970, os planos para a demolição da deteriorada Igreja de Matosinhos tornaram-se concretos. Diante dos protestos do DPHAN, os responsáveis — Jacinto, agora apoiado por Delfim e pela Diocese da cidade — prometeram um novo templo “grandioso”, embelezador dos arredores e “sóbrio, mas artístico”.
Seguiram adiante, e assim nasceu, no mesmo terreno de sua antecessora, a Paróquia do Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Um fragmento da saudosa Igreja de Matosinhos ainda pode ser encontrado na cidade: uma portada, vendida após a demolição do templo, foi recuperada após uma marcante mobilização jurídico-popular. O produto do “resgate” está em exposição no Museu de Arte Sacra de São João del Rei.

Fonte: Arquivo Central do IPHAN, proc. 68-T-38 (Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de São João del Rei).

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